NOTA BIOGRÁFICA SOBRE FEDERICO CORCHÓN Y DIAQUE

FEDERICO CORCHÓN Y DIAQUE (por vezes grafado Diaqué), provavelmente nascido em Madrid (ignoro datas de nascimento e morte), estudou pintura com o pai[1] e depois na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, Madrid, sob a orientação do artista belga-espanhol Carlos de Haes (1828-1898). Não conheço retratos seus.[2]


O Annuaire Didot et Bottin regista a sua morada em Paris na Rue Pasquier, 17, entre 1878-1882 e na Rue Enghien, 1, durante 1884-1891. Terá chegado à cidade em meados da década de 1870.


Expôs em todos os Salons entre 1875 e 1883 (cf. na base de dados). Pintor do realismo, acompanhou o ciclo final da Escola de Barbizon, reflectido em duas telas de 1875, La lisière de la forêt de Fointanebleau à Barbizon e La porte-aux-vaches, à Barbizon, que integraram a Colecção Daupias.


Diaque foi, precisamente, próximo do conde de Daupias, o coleccionador e empresário franco-português Pedro Eugénio Daupias (1818-1900),[3] que lhe adquiriu pelo menos 13 obras (bem como ao irmão Ricardo, a seguir referido; ver o catálogo da colecção Daupias em 1880). Entre 1884 e 1887 esteve com frequência em Portugal, após uma visita inicial em 1874, como abaixo detalhado. Expôs duas vezes em Lisboa. 


Nos finais dos anos 1870 colaborou com a revista La Ilustración Española y Americana, e no começo dos anos 1890 com a L'Art et la Mode – Journal de la vie mondaine (imagens nesta página). 


Era irmão de outros dois pintores: o quase homónimo Ricardo Federico Corchón y Diaque (1853 ou 1855-?), que o acompanhou em Paris e também expôs no Salon; e Josefina Corchón y Diaque (datas desconhecidas), por sua vez casada com o também pintor Antonio García Mencía (1853?-1915). Também há (online) referências a um outro pintor, Luis Corchón y Diaque, cujo parentesco não conseguimos estabelecer, que suponho mais novo que aqueles três.


Não encontrei referências biográficas após 1887, não obstante os trabalhos publicados na imprensa em 1890 e 1891 (também nesta página). Porém, uma crónica do pintor e crítico de arte Gonzague Privat (1843-1917) publicada em 1891 relata uma visita deste ao Hospital Bicêtre para doentes mentais, em Paris, onde encontrou internado um artista homónimo: "malheureux Corchón y Diaque, un peintre d'un réel talent, avec qui j'ai causé une heure durant, sans lui entendre prononcer un seul mot indiquant un état dément" (PRIVAT, 1891: 1). Não é possível determinar se se tratava de Federico ou de um familiar, mas note-se que 1891 é também o último ano em que o seu nome e morada aparecem no acima mencionado Annuaire Didot et Bottin, ou num trabalho conhecido, o da imagem 04 nesta página.



EM PORTUGAL

O catálogo de 1880 da colecção Daupias lista uma tela datada de 1874 com o título Vue prise aux environs de Lisbonne - Portugal. Corresponderá a uma primeira visita ao país. A referência mais antiga que encontrámos sobre ele na imprensa portuguesa é de 1884, numa notícia sobre a aquisição por Daupias da pintura Boulevard Malesherbes, de 1878 (VASCONCELOS, 1879: 31), de que a gravura nesta página (imagem 01) talvez seja uma versão. 


Mais em concreto sabe-se que o artista veio a Portugal em 1884: "Está em Sintra o distinto pintor espanhol Federico Diaque, rapaz de muito talento, e que tem exposto vários quadros no Salon. Na galeria do Sr. visconde de Daupias figuram trabalhos seus. Federico Diaque tem pintado em Sintra alguns quadros que destina à próxima exposição do Salon" (ANON., 1884a: 1).


No mesmo 1884 há notícia de Daupias ter-lhe também comprado L'abattage en foret (1876), que nesse ano (Novembro) ofereceu, entre obras de outros artistas, ao Museu de Belas-Artes de Lisboa (pelo que, suponho – ainda não verifiquei –, fará hoje parte da colecção da Academia Nacional de Belas-Artes). A notícia dizia ainda: "[e] Frederic [sic] Diaque, um moço de grande talento, autor de magníficos trabalhos que expôs no Salon de Paris, bastante conhecido em Madrid, onde fez os seus estudos, e tendo uns poucos de quadros, todos de grande merecimento, nas galerias Daupias" (ANON., 1884b: 2).


A participação na Exposição de Quadros de Pintores Nacionais e Estrangeiros de Fevereiro de 1885, nas salas do jornal Comércio de Portugal, onde apresentou 29 obras, garantiu-lhe a venda de pelo menos oito, compradas por Alice Munró Anjos, Elisa da Silva Pereira, Francisco Ribeiro da Cunha, William Gruis e Frederico Daupias (1839-1928, sobrinho do conde de Daupias). Monteiro Ramalho escreveu que o lote exposto compreendia "figura, paisagem e marinhas (...) paisagens tenebrosas (...) engomadeiras (...) burros [e] cães" (ANON., 1885k: 1; RAMALHO, 1885c: 62).


(Aquela exposição abriu a 21 de Fevereiro de 1885, mas a 12 de Fevereiro o Jornal da Noite informou: "Nas salas do Comércio de Portugal abre amanhã ou depois uma exposição de vinte e tantos quadros, devidos ao pincel de um artista francês [sic], o Sr. Diaque". Não é claro se se tratava de outra exposição ou da mesma, mal explicada; ANON., 1885n: 1.)


A proximidade do artista com os Daupias desdobra-se numa nota de 1886 (Outubro): "Da Granja regressaram já a esta capital os Srs. condes de Daupias, suas netas e o pintor Diaque, que durante a época balnear esteve hospedado no magnífico chalet que os Srs. condes possuem naquela praia". Em Dezembro seguinte Diaque esteve numa "reunião elegantíssima em casa do Sr. Gruis" (o empresário britânico William Gruis, acima referido) em Lisboa, onde também foram membros dos Daupias (ALÉRIA, 1886a: 1; ALÉRIA, 1886b: 1). Em 1887 (Março) atendeu um jantar em casa dos Daupias dado em honra da cantora lírica italiana Elena Theodorini (1857-1926) com, entre outros, João Crisóstomo Felício, director e proprietário do Comércio de Portugal, o compositor Alexandre Rey Colaço e ainda um António Girão, de que não sabemos se tinha algum parentesco com o pintor Moura Girão (ANON., 1887d: 1). 


Em Novembro de 1887 Diaque expôs nas salas do Comércio de Portugal com Higino de Mendonça. Ver informação detalhada aqui.


A última referência que consegui detectar na imprensa portuguesa é no anúncio de um "Leilão de boa mobília, piano de 7/8 e quadros" organizado em 1891, com duas pinturas "do autor Diaque" (ANON., 1891: 4). 




[1] Talvez José María Corchón, ou o José María Corchón y Diaque referido aqui (embora a atribuição das obras referidas esteja errada: são do filho Ricardo).


[2] Antes, em Madrid, Federico parece ter-se interessado por taquigrafia: há um homónimo numa lista de alunos suplentes de 1869-1870 da Escuela de Taquigrafía da Sociedad Económica Matritense.


[3] Sobre Daupias, ver os estudos do investigador Ramiro A. Gonçalves, aqui e aqui (pp. 175-188).

FCD_1878

FCD_1879

FCD_1890

FCD_1891

FCD_SD


As imagens nesta página são as únicas que encontrei em arquivos online (Hemeroteca Digital de España, Gallica e um catálogo da leiloeira Blanchet & Associés) com obras genuinamente assinadas por Federico Corchón y Diaque (não consegui identificar os gravadores). Não conheço outra bibliografia com reproduções de trabalhos seus.


Das peças aqui reproduzidas, destaque-se a 01. Será uma versão da tela Boulevard Malesherbes (1878), que pertenceu à colecção Daupias. 


[Um alerta: qualquer pesquisa online com o termo "Corchón y Diaque" revelará principalmente obras do seu irmão quase homónimo, Ricardo Federico Corchón y Diaque, bem como da irmã Josefina e de um parente ainda não identificado, Luis (sobre estes, ver o texto principal).]

01

"París: el Boulevard Malesherbes después de la lluvia 

Cuadro de D. Federico C. Diaque – Dibujo del mismo autor"

La Ilustración Española y Americana

1878

HEMEROTECA DIGITAL - BUBLIOTECA NACIONAL DE ESPAÑA


02

"Paris – La venta del 'París-Murcia' en las galerías del hipódromo, por la comision de actricer

(Dibujo del Sr. Ferrant, segun cróquis de nuestro corresponsal D. Federico C. Diaque"

La Ilustración Española y Americana

1879

HEMEROTECA DIGITAL - BUBLIOTECA NACIONAL DE ESPAÑA


03

"Visites aux Aquarellistes, dessin de Fréderic Diaqué"

L'Art et la Mode – Journal de la vie mondaine

1890

GALLICA


04

Ilustração para o conto "Plage 'fin de siècle'" de Jean Allesson

L'Art et la Mode – Journal de la vie mondaine

1891

GALLICA


"Mondanités hippiques"

s.d.

Blanchet & Associés – Estampes – Art moderne & contemporain (cat. Março 2014, p. 81)

BLANCHET & ASSOCIÉS