GRUPO DO LEÃO

RETRATOS DO GRUPO DO LEÃO

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GRUPO DO LEÃO designa um círculo de artistas plásticos e escritores identificado com o naturalismo (ou realismo), que conviveu principalmente em Lisboa na Cervejaria Leão entre 1878 e começos de 1885, e depois no Restaurante Leão de Ouro a partir de Abril de 1885, sendo este o espaço decorado por alguns desses artistas. Ambos ficavam na Rua 1.º de Dezembro, chamada Rua do Príncipe até 1908. 


É essencial esclarecer que o estabelecimento que hoje (2023) usa o nome "Restaurante Leão de Ouro" corresponde à antiga Cervejaria Leão. O Restaurante Leão de Ouro original, o de facto decorado pelos artistas, ficava ao lado e é hoje (2023) o restaurante Buffet do Leão.  


Antes de convergirem na cervejaria os artistas reuniam em casa de Alberto de Oliveira na Praça da Alegria (VERDE, 2021 [1877]: 139), segundo o pintor António Ramalho: "A sua [de Oliveira] trapeira [i.e., águas-furtadas], cujo mobiliário disparatado se desconjuntava, e de cujas paredes ele havia feito uma pitoresca galeria de gravuras cortadas das revistas da época, transformara-se numa espécie de academia – academia composta de rebeldes, de patuscos, de idealistas... (...) Quem pudera suspeitar que havia de ser ali, no meio de um cenário de grotesco e de miséria, que o [futuruo] Grupo do Leão, que ficou na história da Arte em Portugal, teria origem. Constituído esse grupo (...), a nossa sede mudou para as mesas do Leão de Ouro" (RAMALHO, 1915: 1).


Os artistas eram próximos ou membros da Sociedade Promotora de Belas-Artes (SPBA, com sede na Rua Victor Cordon, 21),[*] fundada em 1855, dominada pelas correntes de pintura romântica e histórica. Entre 1881 e 1888, em dissidência com a SPBA, organizaram em Lisboa oito exposições "oficiais" e uma "extra", primeiro ditas de "quadros modernos" e depois de "arte moderna", quando começaram a incorporar escultura. Houve uma pré-exposição em 1880, de Columbano e António Ramalho, que poder ser entendida como um ensaio. As iniciativas tiveram como principal promotor Alberto de Oliveira e inauguraram sempre em meados de Dezembro. A de 1881 foi na Sociedade de Geografia de Lisboa (na sede inicial, Rua do Alecrim, 89, 2.º andar) e as restantes numa sala do jornal Comércio de Portugal (em 1882: na Rua dos Fanqueiros, 284, 1.º andar; a partir de 1883: na Rua Ivens, 35, 1.º andar [chamada Rua de São Francisco até 15 de Setembro de 1885]). Note-se a exposição extra em 1886, no âmbito da abertura do Depósito da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha na Avenida da Liberdade em Lisboa. Os catálogos são consultáveis online. Em 1882 Oliveira também lançou a Crónica Ilustrada (cinco números), a revista oficial do grupo.


Note-se ainda que entre 1885 e 1887 aconteceram cinco exposições em Lisboa que podem ser entendidas como inspiradas pelas do Grupo do Leão. 


No final de 1888 alguns membros do grupo lançaram a ideia de um Grémio Artístico (GA), formalizado em 1890, continuação directa do núcleo, mas amplificado, que organizou nove exposições durante 1891-1899. Em 1901 a SPBA e o GA fundiram-se, originando a Sociedade Nacional de Belas-Artes. (Ver aqui uma caricatura de José Malhoa por Rafael Bordalo Pinheiro, em 1901 n'A Paródia, em parte alusiva à evolução Grupo do Leão > Grémio Artístico > Sociedade Nacional de Belas-Artes.)


A designação "Grupo do Leão" deve-se ao jornalista Mariano Pina. Em Dezembro de 1881, a propósito da primeira exposição, publicou no lisboeta Diário da Manhã um artigo que começava: "Chamar-lhe-ei o Grupo do 'Leão' a este grupo de artistas distintos, rapazes ainda todos, cheios de entusiasmo e de talento, que resolveram há um mês, entre bocks e fumaças de cachimbo, organizar uma exposição de belas-artes, uma exposição essencialmente moderna, onde há algumas telas preciosas, reveladoras de boas inteligências". Acrescentou: "Há na Cervejaria Leão, da Rua do Príncipe, uma mesa mesmo à esquerda, mesmo no extremo da parede que volta para a sala dos bilhares. É nessa mesa que o grupo se costuma reunir – o grupo dos pintores" (Z. SEGREDO, 1881: 1). (Ver o recorte do artigo original aqui, e imagens seguintes, na página de Facebook Manuel Henrique Pinto 1853-1912 de Luís Borges da Gama)


As exposições de 1881-1888 estabeleceram um corte com a geração do romantismo e da pintura histórica, ainda que artistas como José Veloso Salgado e Ernesto Condeixa tenham participado nelas, e sendo claro que Rafael Bordalo Pinheiro era um nome excepcional perante qualquer dos géneros ou práticas. Para um conhecimento detalhado deste processo, ler: FRANÇA, 1990: 23-27, 83-89; e o capítulo 2.4.3., "As exposições do Grupo do Leão", em LEANDRO, 1999.[**]


O Grupo do Leão, para além das exposições, foi notório pelas 27 obras de 11 dos seus membros que decoraram o Restaurante Leão de Ouro entre o final do século XIX e 1939, com um conjunto inicial colocado em 1885 e um segundo em 1905. Estas acções fizeram do estabelecimento o primeiro museu de arte contemporânea informal do país, comissariado pelos próprios artistas e sustentado por iniciativa privada. Tal estabeleceu o precedente para intervenções simliares em 1925 no Café A Brasileira e no Bristol Club, também em Lisboa.



[*] O PL7885 naturalmente exige um aprofundamento da actividade da Sociedade Promotora de Belas-Artes, bem como do período que alguns dos membros do Grupo do Leão passaram em Paris, e ainda da acção artística correspondente ao grupo na cidade do Porto. Estas secções do website estão em construção.


[**] Um entendimento mais completo do Grupo do Leão implica a consulta de uma série longa de textos (ver BIBLIOGRAFIA): RIP. (pseud.), 1885: 22, 27; PINA, 1886a: 43-44; PINA, 1886b: 178-179; ACÁCIO, 1887: 29, 30; ORTIGÃO, 1890 (1882): 142-145, 163-164; ALMEIDA, 1885: 3-4; LACERDA, 1885: 2; RAMALHO, 1897; ARTUR, 1896: III-IV (pref. Fialho de Almeida), 12, 20, 23-28; ARTUR, 1898: 67, 71, 195; NORONHA, 1917; MACEDO, 1941: 10-12; SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS-ARTES, 1941; FREIRE, 1945: 19; MENDES, 1953: 1-2; COUTO, 1981 (com importante bibliografia); PACHECO, 1993; SILVA, PATERNOSTO, 1996; COUTO, 2002; SANTOS, 2005; AA.VV., 2007; LEANDRO, 2008, 2016: 113-126; ELIAS, 2008, 2010, 2011; AA.VV., 2010; OLIVEIRA, 2016; SOROMENHO, 2017; MARQUES, 2021.

NOMES


ORDENADOS POR ANO DE NASCIMENTO


Artistas plásticos (pintores, desenhistas, escultores, ceramistas, entalhadores, gravadores) e escritores (jornalistas, publicistas, críticos, prosadores, poetas) que integraram ou foram muito próximos do Grupo do Leão, e que/ou que participaram nas exposições oficiais, ou foram habituais nas tertúlias na Cervejaria Leão e no Restaurante Leão de Ouro, ou colaboraram na revista Crónica Ilustrada


A lista inclui indivíduos algo periféricos ao Grupo. São os nomes destacados a laranja. (Não se inclui Tomás da Anunciação, 1821-1879, que teve uma obra na exposição extra de 1886.) O mesmo vale para muitos dos nomes que participaram na Crónica Ilustrada, assinalados com O.


Para os participantes nas exposições do Grémio Artístico, consultar os respectivos catálogos, acessíveis em páginas externas nesta secção


FONTES: para além das citadas noutras páginas deste website, usa-se RAMALHO, 1915: 1; VILHENA, 1916: 1; CRISTINO, 1923: 31-32; TEIXEIRA, 1941: 13-14, 17; SANTOS, 1939: 11; CORREIA, 2011: 1, 2. 




ARTES


T   entalhador

E   escultor

G   gravador

Todos os outros: pintores e/ou desenhistas (além, claro, de Rafael Bordalo Pinheiro, que também foi ceramista).


O   participante nas exposições oficiais de 1881-1888

O   participante na exposição colateral de 1885

O   participante na exposição extra de 1886

O   expositor no Restaurante Leão de Ouro

O   colaborador na revista Crónica Ilustrada


Note-se que Maria Augusta Bordalo Pinheiro é o único nome comum a todos os casos, excepto à Crónica Ilustrada.


- João Anastácio Rosa 1812-1884 [1]   E  

- Alberto Nunes 1829-1890   O

- Luís Bastos 1838-1912   O

- Leandro Braga 1839-1897   T  O

- Manuel de Macedo 1839-1915

- Maria Augusta Bordalo Pinheiro 1840-1915   O     

- José Cipriano Martins 1841-1888   O  

- Maria Luísa de Sousa Holstein 1841-1909 [2]   E  O 

- José Moura Girão 1840-1916   O  O

- José Maria Pereira Júnior [dito Pereira Cão] 1841-1921   O 

- Ricardo Hogan 1843-1891   O

- Rafael Bordalo Pinheiro 1846-1905   O

- António Soares dos Reis 1847-1889   E  O

- Augusto Rodrigues Duarte 1848-1888 [3]   O

- Luigi Manini 1848-1936 [4]   O

- José Luís Monteiro 1848-1942   O

- Alfredo Keil 1850-1907   O

- Alfredo José Torcato [ou Torquato] Pinheiro 1850-1910   O

- Francisco Vilaça c. 1850-1915   O  O

- António da Silva Porto 1850-1893   O  O

- Josefa Greno 1850-1902 [5]   O

- Manuel Henrique Pinto 1853-1912   O

- Enrique Casanova 1850-1913 [6]   O

- Miguel Castaño Guerrero 1853-1897 [7]   O

- Federico Corchón y Diaque 1853-1925 [8]   O 

- João Marques de Oliveira 1853-1927   O

- Artur Loureiro 1853-1932

- Thomaz de Mello Júnior c. 1854-19??   O

- Adolfo Greno 1854-1901    O

- José Malhoa 1855-1933   O  O

- João Rodrigues Vieira 1856-1898   O  O

- Marcelino Mesquita 1856-1919

- José Queiroz 1856-1920   O

- Henrique Pousão 1859-1884   O

- José Júlio de Sousa Pinto 1856-1939   O

- Columbano Bordalo Pinheiro 1857-1929   O  O

- Ernesto Condeixa 1858-1933   O

- João Ribeiro Cristino 1858-1948   O  O

- António Ramalho 1859-1916   O  O    

- João de Melo Viana 1859-? [9]   O

- João Vaz 1859-1931   O  O

- Júlio Teixeira Bastos 1860-1919   O

- José Moreira Rato 1860-1937 [6]   O

- Tomás Costa 1861-1932   O

- Luciano [Lucien] Lallemant 1863-1929 [10]   G   O

- Julião Félix Machado 1863-1930

- Carlos Reis 1863-1940   O

- Berta Ramalho Ortigão 1863-1947   O

- Helena Bachelay Gomes 1864-1930   O

- José Veloso Salgado 1864-1945   O

- António Teixeira Lopes 1866-1942   O

- Zoé Batalha Reis 1867-1949   O

- José de Figueiredo ?-antes de 1922  O

- João Maria Heitor ?-?   G

- António Félix da Costa ?-?   O

- Torrielli ?-? [12]   O

- Elisa de Mello ?-?   O

- Augusto Viana ?-? [não consegui identificar]   O

- C.B. ?-? [não consegui identificar]   O


[1] Profissão: actor.

[2] Duquesa de Palmela.

[3] Nascido em Portugal, mas com carreira no Brasil (PITTA, 2014: 190-201).

[4] Italiano.

[5] Espanhola.

[6] Espanhol.

[7] Espanhol.

[8] Espanhol. Ver nota biográfica.

[9] Brasileiro. Médico, formado em Lisboa. Foi médico de Eça de Queirós em Paris.

[10] Franco-português. Da tipografia Lallemant Frères, fundada pelos seus tio e pai, respectivamente Francis e Adolphe. 

[11] Nome completo: José Augusto de Figueiredo, dito o "Pinturinhas". Não confundir com José de Figueiredo (1871-1937), historiador de arte e director do Museu Nacional de Arte Antiga.

[12] Talvez especulo – o italiano Luigi Torrielli, que trabalhou em Espanha em 1883. Referido aqui e aqui na imprensa espanhola, identificado como I. Luis de Torrielli.




LETRAS


O   colaborador na revista Crónica Ilustrada


- Raimundo de Bulhão Pato 1829-1912

- João de Deus 1830-1896   O

- José Ramalho Ortigão 1836-1915   O

- Teófilo Braga 1843-1924   O

- Fernando Leal 1846-1910 

- António Gomes Leal 1848-1921   O

- João da Câmara 1852-1908

- Carlos de Moura Cabral 1852-1922   O

- Abel Botelho 1854-1917

- Cesário Verde 1855-1886

- Joaquim Coelho de Carvalho 1855-1934

- Eduardo Barros Lobo [pseud.: Beldemónio] 1857-1893   O

- José Fialho de Almeida [pseud.: Valentim Demónio] 1857-1911   O

- Gualdino Gomes 1857-1948

- Joaquim de Araújo 1858-1917   O

- Ana de Albuquerque 1858-1924 [13]   O

- Afonso Vargas 1859-?

- Manuel Garcia Monteiro 1859-1913   O

- Luís Fortunato da Fonseca [pseud.: Fausto de Azevedo] 1859-1934 

- Mariano Pina [pseud.: Z. Segredo] 1860-1899   O

- Emídio Monteiro [pseud.: João Sincero] 1860-1909

- Alberto de Oliveira 1860-1922   O

- Jaime de Séguier 1860-1932   O

- Manuel Teixeira Gomes 1860-1941   O

- Evaristo Monteiro Ramalho [14] 1862-1949   O

- Ávila Moreno ?-? [não consegui identificar]   O

- Pierre Grassou [pseud. de autor não identificado] [15]   O

- Yorick [pseud. de autor não identificado] [16]   O


[13] Actriz, poeta. Foi casada com Luís da Câmara Leme (1819-1904), militar e político.

[14] Irmão do pintor António Ramalho.

[15] Pierre Grassou é uma novela (1839) de A Comédia Humana de Honoré de Balazac. O protagonista epónimo é um pintor frustrado que executa cópias de grandes mestres para agradar à burguesia ignorante compradora de arte. Uma hipótese para o nome por trás deste pseudónimo, tal como para o de Yorick (ver a seguir), é Jaime Batalha Reis (sobre isto, ver aqui, ponto X). 

[16] Yorick, bobo da corte, é um personagem "morto" de Hamlet de William Shakespeare. É a caveira que o protagonista segura e a quem se dirige num dos mais famosos momentos da peça ("Alas, poor Yorick!", ato 5, cena 1). 

ESPAÇOS DO GRUPO DO LEÃO

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EXPOSIÇÕES DO GRUPO DO LEÃO - [1880]1881-1888

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EXPOSIÇÕES EM LISBOA PARALELAS ÀS DO GRUPO DO LEÃO - 1885-1887

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EXPOSIÇÕES DO GRÉMIO ARTÍSTICO - 1891-1899

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EXPOSIÇÕES ANTOLÓGICAS SOBRE O GRUPO DO LEÃO - 1941, 1981

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CRÓNICA ILUSTRADA, REVISTA OFICIAL DO GRUPO DO LEÃO - 1882

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