CRONOLOGIA VISUAL

RUA 1.º DE DEZEMBRO

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2022 / 2015

RUA 1.º DE DEZEMBRO / 

LARGO DO DUQUE DE CADAVAL

In extenso: o n.º 101, não assinalado – a porta verde – conduz à Casa A. Molder, loja de filatelia aberta em 1943 por August Molder e ainda (2023) existente, no 3.º andar. Por vezes funcionou como galeria de arte. Essa natureza foi recuperada em 2020 com a Galeria da Casa A. Molder, um projecto de arte contemporânea dirigido pela artista Adriana Molder.



1877

L1878

Um artigo (na verdade, uma publicidade disfarçada de notícia) no lisboeta Jornal da Noite em Agosto de 1877 fala do "estabelecimento" do "Sr. Varela" na "Rua do Príncipe e que a cerveja é magnífica" (ANON., 1877: 3). Cruzando este dado com as informações directas recolhidas pelo olisipógrafo João Paulo Freire (FREIRE, 1931: 81-83), que dizem que a Cervejaria Leão, inaugurada com esse nome em 1878 (ver a seguir), instalou-se no espaço de uma anterior Cervejaria Varella (com dois "l"), de um galego, o jornal e Freire referir-se-ão à mesma casa. Portanto, pode afirmar-se que aquele que veio a ser o primeiro espaço público de tertúlia do Grupo do Leão (antes reuniam em casa de Alberto de Oliveira) existia, pelo menos, desde o Verão de 1877. Está por apurar se este Varela é o João Varela adiante referido.



1878

L1878

João Varela, António Monteiro e outro sócio de apelido França (FREIRE, 1931: 81-83) (ou, em vez de França, Jacinto Franco, segundo esta informação, mas que não indica fonte), ex-funcionários da Cervejaria Jansen (Rua do Alecrim), fundam em Arroios a Fábrica de Cerveja Leão.[1] No mesmo ano, Varela e Monteiro abrem a Cervejaria Leão no ângulo do Largo do Duque de Cadaval com a Rua 1.º de Dezembro, 103-107 (Rua do Príncipe até 1908), e respectiva sala de bilhares nos n.ºs 95-99. O Grupo do Leão terá logo começado a frequentar a cervejaria (CRISTINO, 1923: 31). A mais antiga referência escrita que conseguimos detectar à Cervejaria Leão é uma folha com desenhos de Rodrigues Vieira e Moura Girão, executados ali e datados de Setembro de 1878. Na imprensa, as menções explícitas mais remotas que encontrámos sobre a Cervejaria Leão são de Janeiro de 1879 (ANON., 1879a: 2; ANON., 1879b: 3). 


 

1885

L1885

António Monteiro separa-se do(s) sócio(s) (não é claro se o sócio França, ou Franco, ainda o era nesta altura) e compra-lhe(s) a sala de bilhares da cervejaria. Adquire também, contíguo aos bilhares, os n.ºs 91-93 na mesma rua, o Café Mandarim Chinês, de José Augusto Sales (futuro administrador do Café Montanha), que transforma em sala de bilhares ligada ao restaurante (FREIRE, idem). 



1885

L1878

A cervejaria, que encerrou para obras em data que não conseguimos determinar, reabre a 14 de Fevereiro. A informação é dada num anúncio de jornal que refere "João Varela, proprietário deste estabelecimento", publicitando os "melhoramentos a que procedeu" e a nova "decoração da casa", não explicitada (ANON., 1885a: 4). O espaço passou depois a ser apodado de "Leão Triste", por mais humilde que o concorrente ao lado, o Restaurante Leão de Ouro, inaugurado em Abril seguinte.[2]



1885

L1885

O Restaurante Leão de Ouro fica pronto em Março (ALÉRIA, 1885a: 2; esta fonte também assinala a sala de bilhares; ver ainda INFORMADOR, 1889: 2).[3] Inicialmente, Monteiro pretendia revestir o restaurante com espelhos, da loja de espelhos e molduras de um Varela – um outro Varela ainda – existente na Rua Garrett, frente à Basílica de Nossa Senhora dos Mártires (RIBEIRO, 1907: 410),[4] mas acedeu à sugestão dos artistas do Grupo de Leão para decorar o espaço com pinturas destes, feitas de propósito. A ideia terá primeiro partido do criado Manuel de Vasconcelos[5] (FREIRE, ibidem), ex-funcionário da cervejaria, que seguiu Monteiro para o Leão de Ouro – razão pela qual o Grupo do Leão mudou para ali a tertúlia, para continuar a ser servido por este Manuel, o empregado preferido. Monteiro aceitou e financiou a produção das obras[6]. Para anular a encomenda inicial a Varela, teve de comprar a este as telas, tintas e molduras (FREIRE, ibidem).[6] A inauguração foi a 16 de Abril, com nove pinturas (ou dez, se incluirmos o retrato de António Monteiro por José Malhoa executado dois anos antes, mas com data incerta de colocação no restaurante), um reposteiro decorativo e uma escultura em madeira (ANON., 1885: 3). (Ver LPIX85 para conhecer as obras, artistas e disposição na sala.) A imprensa foi convidada para uma visita exclusiva a 15 de Abril (ANON., 1885e: 2). (Sobre outros funcionários da casa há algumas notas curiosas.[7]) Sobre todo o processo, é essencial ler o estudo "A galeria de pintura do restaurante Leão de Ouro: percursos de uma colecção" de Clara Moura Soares, publicado na revista Artis em 2007.



1886

L1885

Na noite de 15 de Abril, por volta das 22h30, o Leão do Ouro encheu-se de "jornalistas, médicos, estudantes de medicina" vindos de uma "conferência sobre psicopatias". "De repente soou pela sala o estampido de um tiro de revólver. Fez-se um silêncio súbito, e todos olharam como que petrificados para a mesa que fica à entrada, do lado esquerdo, justamente defronte do belo quadro de Columbano que representa o Grupo do Leão, e onde, poucos momentos antes, um indivíduo, de aparência simples e regularmente vestido, comia muito sossegadamente. O desgraçado conservava-se com o revólver na mão; o olhar amortecia-se-lhe e ele murmurava confusamente algumas palavras em espanhol. (...) Uma bala penetrara um pouco abaixo da clavícula esquerda e, circundando o tórax sem ne penetrar, fora alojar-se próximo da omoplata", frustrando a tentativa de suicídio. O homem, chamado Enrique Lequerica y Zenetaga, foi assistido no local pelos médicos Bettencourt Rodrigues e Leão de Oliveira, e depois tratado no Hospital de São José, onde ficou livre de perigo (ANON., 1886h: 2). É interessante notar que um daqueles médicos era precisamente António Maria de Bettencourt Rodrigues (1854-1933), membro do Grupo do Bas-Rhin, o círculo de portugueses em Paris frequentado, entre outros, pelos irmãos artistas Bordalo Pinheiro (ver desenho de António Ramalho sobre este grupo).



1887

L1878

Morre João Varela, em finais de Julho. A Fábrica de Cerveja Leão ("Rua de Arroios, 50") anuncia-o nos jornais, identificando-o como "muito prezado sócio" (ANON., 1887b: 4). Residente na Rua da Palma, foi enterrado no Cemitério dos Prazeres (ANON., 1887a: 2).



1888

L1885

O Correio da Manhã informou que ia "acontecer a expropriação de todos os prédios da Rua do Príncipe compreendidos entre a Avenida [da Liberdade] e a Calçada do Carmo", com isto desaparecendo "quatro cervejarias, entre as quais a do Leão de Ouro", o que não se verificou (ALÉRIA, 1888: 1). Aconteceu, sim, a demolição dos prédios sitos no lugar onde foi construída a Estação Ferroviária do Rossio, inaugurada em 1889 (recorde-se que a Rua do Príncipe, hoje Rua 1.º de Dezembro, prolonga-se até à Praça dos Restauradores). 



1890

L1885

De O Economista: "Houve sexta-feira à noite [3 de Outubro] cena violenta entre os Srs. Urbano de Castro e Higino de Sousa, cena em que parece que tomaram parte depois outros indivíduos. O caso deu-se, dizem-nos, cerca das oito horas e meia, na Rua do Príncipe, no café Leão de Ouro. A mobília do botequim ficou algo deteriorada" (ANON., 1890: 2).



1891

L1885

Um colaborador da revista francesa La Vie Parisienne, que assina Lupin (não conseguimos identificá-lo), tendo passado por Portugal, publica o artigo "Quelques jours a Lisbonne – Notes de voyage", onde escreve (não sem alguma confusão): "Dans la ville même, il est peu de curiosités: le 'Leao d'Ouro', cabaret du Lion d'Or, le Chat Noir de là-bas, dont les murs sons hérissés de peintures impressionnistes et où l'on voit quelques bohèmes portugais, à cheveux longs peu originaux: cela s'est constitué plutôt par un rendez-vous de peintres peu fortunés qui ont payé leur note en taches de couleur sur les murs, que par un plan bien suivi de cabaretier. Tel que, les indigènes en sont très fiers" (LUPIN, 1891: 584). No lisboeta Correio da Manhã, o cronista Aléria (pseud. não identificado) comenta ser um artigo "troçando das nossas coisas" e observa que o autor "considera o Leão de Ouro como uma paródia da sala do Café dos Incoerentes ou do Chat Noir" (ALÉRIA, 1891: 1).



1896

L1885

A 25 de Março, o Correio da Manhã anuncia que o restaurante fechou para obras (ANON., 1896a: 1). Por outro lado, a 27, o Comércio de Portugal informa que o Leão de Ouro fechou portas em consequência do protesto da Associação de Lojistas de Lisboa contra o pagamento de licença de porta aberta "depois da hora do recolher até às duas horas da madrugada", apesar do Leão ter essa licença e, aliás, a lei estar em vigor no resto do país há vários anos (ANON., 1896b: 1).



1903

L1885

Na primeira edição do Gourmet's Guide to Europe, de 1903, Nathaniel Newnham-Davis (1854-1917) recomenda o Leão de Ouro e explica: "This formerly was, and to a great extent still is, the rendezvous of actors, authors, and professional men". Na terceira edição do mesmo guia, de 1911, refere ser propriedade de António Monteiro, e descreve: "[I] found it a rather bare but perfectly clean room with big pictures of river scenery and game in heavy wooden frames on the green walls, and a pleasant suggestion of Bohemianism in the company, for most of the men who sat at the tables of bent wood and marble looked as though they were men of the pen, or bush, or of the sock and buskin [i.e., do teatro]. A great golden lion rampant on the wine counter explains the name of the house". As descrições, portanto, referem-se à sala aberta em 1885 (NEWNHAM-DAVIS, BASTARD, 1903: 194; NEWNHAM-DAVIS, 1911: 304-305).


 

1905

L1885

António Monteiro transforma a sala de bilhares (n.ºs 91-93) em restaurante. À esquerda, no actual n.º 89, consegue adquirir e fechar uma passagem para o Pátio do Duque de Cadaval, transferindo para aí a cozinha. Convida o pintor João Vaz para coordenar a execução de mais pinturas a instalar na sala nova, pelos ainda vivos do Grupo do Leão. Produzem-se seis trípticos e um díptico e juntam-se pratos decorativos (cerâmicas) do então já desaparecido Rafael Bordalo Pinheiro. O espaço fica pronto em Abril (FONSECA, 1905: 104). [Ver LPIX05 para conhecer as obras, artistas e disposição na sala.]  



1913

L1885

Em Fevereiro, um assaltante, de nome Emílio Igrejas, arrombou "o telhado da cozinha que deita para o lado da Estação do Rossio". Foi preso quando se evadia por uma das portas da Rua 1.º de Dezembro, tendo em posse tabaco no valor de seis mil réis e 21 mil réis em dinheiro (ANON., 1913: 2). 



1915

L1885

António Monteiro transmite o negócio a José da Costa (1874-1947), seu genro, ex-proprietário de uma mercearia na Rua do Carmo (FREIRE, idem; SOARES, 2007: 282).



1917

L1878 ou L1885

Em 21 Maio de 1917 a Ilustração Portuguesa assinala, com fotografia: "O Sr. João Luís Ferreira, proprietário da Cervejaria Leão d'Ouro, da Rua 1.º de Dezembro, há pouco falecido". Não consegui apurar de quem se trata. Talvez um sócio de José da Costa? Ou terá a revista enganado-se e o correcto ser "Cervejaria Leão", que não "d'Ouro", e, portanto, este Ferreira nada ter a ver com o Restaurante Leão de Ouro?  



1921

L1885

Em Janeiro, em resultado de um conflito estético-político com os integralistas, o grupo de José Gomes Ferreira (1900-1985), Eduardo Chianca de Garcia (1899-1983), Armando Soeiro (?-?), Vasco Camelier (?-?) e Eurico Lopes Cardoso (?-?) transfere a sua tertúlia do Café Martinho da Arcada para o Leão de Ouro. § No contexto da polémica que opõe os "novos" à Sociedade Nacional de Belas-Artes, os modernistas organizam no restaurante, a 14 de Dezembro, um jantar de homenagem ao Grupo do Leão, convidando João Vaz, João Ribeiro Cristino, Columbano Bordalo Pinheiro e José Malhoa. Comparecem os dois primeiros. Discursam: António Ferro, Almada Negreiros, André Brun, Leal da Câmara, Luís de Ortigão Burnay, Amílcar de Barros Queiroz, Leitão de Barros, Ruy Coelho, Raul Leal, Celestino Soares e o próprio Vaz (ANON., 1921a: 1; ANON., 1921b: 9). 



1924

L1885

O escritor espanhol Ramón Gómez de la Serna (1888-1963), que viveu em Portugal, publica no segundo volume de La Sagrada Cripta del Pombo: “El Leão d’Ouro – Em Lisboa hay um café com historia sagrada y que últimamente solemnizó el gran António Ferro. Allí se reunía el grupo del Leão, del que há quedado um cuadro de Columbano en que se ve a Malhoa, Columbano, João Vaz y Ribeiro Cristino. Es grato tomar café o cenar junto a esse cuadro de hombres interesantes, empeñados em uma conversación literaria y a los que tanto interesaba la actualidad de su tiempo” (SERNA, 1924: 158). 



1928

L1878

A pintura Apoteose da Lagosta é retirada temporariamente para integrar a Grande Exposição de Homenagem a José Malhoa na Sociedade de Belas-Artes de Lisboa.



1930

L1885

Em Abril, a pintura Grupo do Leão de Columbano Bordalo Pinheiro é levada para a Escola de Belas-Artes de Lisboa para ser restaurada pelo pintor Luciano Freire (ANON., 1930: 5, 8). § Em Fevereiro, José da Costa visita a Exposição Ibero-Americana, em Sevilha, na companhia do seu "grande amigo" António Miguel de Sousa Fernandes, governador civil de Lisboa (ANON., 1930b: 1.)

 


1933

[L1885]

O Leão de Ouro é publicitado no Guia de Portugal Artístico com uma reprodução do Grupo do Leão de Columbano, sublinhando as “salas decoradas com obras dos grandes mestres”. Foi provavelmente a primeira vez que o restaurante utilizou a colecção de arte para atrair clientes (RAMALHO, 1933: 31).[8]

 


1935

[L1885]

O Repórter X, Reinaldo Ferreira, fixa o ambiente do restaurante em meados dos anos 30, en passant numa reportagem (FERREIRA, 1935: 7): "Foi sábado, 9 – cerca das dez da noite, naquele ambiente sonolento do restaurant 'Leão d'Oiro'. Clientela habitual – anfíbia, dos nostálgicos que escorrepicham as últimas gotas duma época extinta; dos neófitos que se iludem julgando que jantar no 'Leão d'Oiro' é um iniciamento; e dos que, como Raul C.... e como eu, o frequentam de quando em vez – ele ao vir do Porto a Lisboa; eu ao descer da minha cidadela – o Chiado e Bairro Alto – à City: por concordância com o menu – em tudo – principalmente nos preços...".



1937

L1885

José da Costa propõe ao Estado a aquisição da colecção, que se interessa apenas por três pinturas: Grupo do Leão e o retrato de António Monteiro, de Columbano, e O Quinteiro, de Silva Porto. Costa recusa a oferta. Em 17 de Abril o Grupo Amigos de Lisboa organiza uma “Noite de Evocação do Leão de Ouro”, com jantar e intervenções de Alberto MacBride, Luís Keil, L. Xavier da Costa, José de Almada Negreiros, Luiz Teixeira e Gustavo de Matos Sequeira (AA.VV., 1937; ANON., 1937: 4).

 


1938

L1878

A cervejaria encerra para obras, até data incerta (ARAÚJO, 1939: 86). Não é impossível que só tenha reaberto em 1945.

 


1939

L1885

Em 25 de Fevereiro, José da Costa promove nas duas salas do Leão de Ouro um leilão das obras, organizado pela empresa Leiria & Nascimento. No Sempre Fixe o caricaturista Francisco Valença publica charges ao momento, em que se teme o encerramento do restaurante. No leilão vende-se apenas Paúl da Outra Banda, de José Malhoa, adquirido pelo industrial Alfredo da Silva.[9] Costa retira as pinturas para a sua residência (SOARES, 2007: 282) e trespassa o Leão de Ouro à empresa Vasques, Fortes & Domingues, dona do Café Suíço (ANON., 1939d.



1940

L1885

O Leão de Ouro reabre a 14 de Julho; ver anúncio aqui. Descrições da época explicam: “As instalações remodelaram-se nas linhas de um modernismo discreto, criou-se uma secção de cervejaria e um bar magnífico", a primeira correspondendo à sala que tinha as pinturas de 1885 e o segundo à que tinha as de 1905 (BASTOS, 1945: s. n.º p.); foi "modernizado, com uma fisionomia que se integrará no panorama festivo das celebrações do ano de 1940”, isto é, a Exposição do Mundo Português (ANON., 1939d: 4); ver também este anúncio.[10]



1945

L1878

A cervejaria dá lugar ao café-restaurante Restauração (alusivo ao nome da rua e ainda no espírito da exposição de 1940), propriedade da empresa Saúl, Garcia & Albuquerque, Ld.ª. O espaço é totalmente remodelado com projecto do arquitecto Vasco Regaleira (1897-1968) e azulejos de Jorge Colaço exceutados na Fábrica de Sant’Anna (TORRINHA, 1997-1998: 156; numa revista cultural da época criticou-se a intervenção: RODRIGUES, A.B.A, 1945: 70-74), mantendo esse aspecto até hoje. Não sabemos quando encerrou.[11]



1946

L1885

Francisco Ramos da Costa (1913-1982), sobrinho de José da Costa, adquire a este a colecção. Relança proposta ao Estado para a venda das pinturas, com o apoio de Diogo de Macedo (a quem financia, também em 1946, o livro Grupo do Leão, com fotografias de Mário Novais; SOARES, 2007: 2282-283). (Em 1924 Francisco foi trabalhar para o Restaurante Leão de Ouro como moço de recados, durante tempo indeterminado. Resistente anti-fascista, co-fundou o Partido Socialista em 1973. Cf. LAGOA, 1982: 4; ver tb. aqui, e obituário no Diário de Lisboa.)



1946

L1885

Ramos da Costa propõe, sem sucesso, que a Câmara Municipal de Lisboa adquira a pintura Alegoria ao Grupo do Leão de Rafael Bordalo Pinheiro.



1953

L1885

Graças ao empenho de Francisco Ramos da Costa e de Diogo de Macedo, o Estado adquire Grupo do Leão, de Columbano, integrando-o no Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado.



1969

L1885

O coleccionador Jorge de Brito adquire a Francisco Ramos da Costa a maioria das pinturas ainda em posse deste (SOARES, 2007: 285).



1969

L1878

Em Abril é emitido alvará à empresa Restaurante Leão de Ouro, Ld.ª para "venda de bebidas alcoólicas (...) no seu estabelecimento de cervejaria e restaurante de 2ª classe, sito na Rua 1º de Dezembro, n.ºs 103 e 107", ou seja, a original cervejaria, e que entre 1945 e até data incerta foi o café-restaurante Restauração. Não se percebe se neste ano esta empresa também era proprietária do Leão de Ouro propriamente dito, nos n.ºs 89-99. 


 

1980 [a partir de]

L1878

Abre a Pizzaria Gordos, nesta década ou na seguinte, funcionando pelo menos até 1998 (HANCOCK, 1998: 128).

 


1985

L1885

Até pelo menos este ano o Leão de Ouro está em funcionamento (CURTIS, 1985: 122). Ignoramos detalhes sobre o período até 2009.


 

1995

L1878

Provável ano de abertura do actual Restaurante Leão de Ouro, considerando que em Novembro foi emitida à empresa Restaurante Leão de Ouro, Ld.ª uma "licença para estabelecimento de café, restaurante e cervejaria, sito na Rua Primeiro de Dezembro, n.ºs 103 a 107" (ver também um pedido de licença para ocupação da via pública, talvez referente a esplanada, em 1999). Exibe, desde data indeterminada, uma grande reprodução fotográfica da pintura Grupo do Leão de Columbano, não sendo certo se se trata da mesma que Diogo de Macedo mandou fazer para o Museu do Chiado na década de 1940, antes da incorporação da tela nesta instituição em 1953[12], ou uma "reprodução do original" que esteve em Artistas do Grupo do Leão – Exposição do centenário (COUTO, 1981: s. n.º p., n.º 1 do cat.), no Museu José Malhoa em 1981 (por ventura até, seriam a mesma). Exibe também o leão dourado talhado por Leandro Braga que esteve no Leão de Ouro original, sendo a única obra da sala de 1885 que ainda está num estabelecimento na Rua 1.º de Dezembro (embora desprovido, pelo menos desde os anos 1960, do escudo que a figura segurava; cf. F.R., 1963: 20). Esta peça foi provavelmente colocada na sala em 2005 ou depois, considerando o que se observa no final desta reportagem televisiva. Tal como o Buffet do Leão (ver a seguir), o actual Restaurante Leão de Ouro é propriedade do Grupo Chimarrão (que afirma nos reclames virados à rua, sem indicar fonte, que a casa abriu em 1842).

 


2009

L1885

Provável ano de abertura do Buffet do Leão, que se mantém até hoje (2023). Primeiro ocupou a sala de 1885. A partir de 2017 ou 2018 estendeu-se à sala de 1905, abatendo-se a parede entre as duas salas e eliminando-se a Taberna do Leão (ver a seguir). 



2013

L1885

Provável ano de abertura da Taberna do Leão, instalada na sala de 1905. Encerrou em 2017.



2017

L1878

O Plano Director Municipal da Câmara Municipal de Lisboa inclui o que designa por "Restaurante Leão de Ouro" na sua lista de "Bens imóveis de interesse municipal e outros bens culturais imóveis", abrangendo os n.ºs 95-107 da Rua 1.º de Dezembro e Largo do Duque de Cadaval. Em simultâneo, o estabelecimento candidata-se à rede Lojas com História, que passa a integrar.








NOTAS


[1] A Fábrica de Cerveja Leão ficava na Rua Direita de Arroios, 46-A a 50 (hoje Rua de Arroios, 46-A a 46-O), no ângulo com o Caminho do Forno do Tijolo (hoje Rua Frei Francisco Foreiro; cf. AML; ver localização exacta aqui). Ocupava o antigo palácio do conde dos Arcos (anteriormente do conde de São Miguel, título que se juntou àquele), um espaço que já tivera outros usos industriais (CASTILHO, 1937: 148-149; AA.VV., 1881: 157). § A fábrica terá existido na Rua de Arroios pelo menos até 1888 (ANON., 1894a: 2), tendo João Varela, que morreu em 1887, como um dos proprietários, ignorando-se o(s) outro(s). Talvez fosse um Jacinto Ramilo (sic), indicado como tal em 1893, ano da sua morte (ANON., 1893a: 2; ANON., 1893b: 4). Certo é que em 1896 já tinha mudado de proprietário e lugar, pertencendo a Albano (ou Álvaro) José de Morais e localizando-se no Largo de Arroios (ANON., 1894b: 2; DIDOT-BOTTIN, 1896: 897; ANON., 1897: 1). Ignoramos a data de extinção. § Algumas fontes (provavelmente seguindo CASTILHO, 1937: 149, aditamento de Augusto Vieira da Silva) afirmam que a Fábrica de Cerveja Leão estava na Rua de Arroios até 1915. A confusão decorrerá de, depois da mudança para o Largo de Arroios, passar a funcionar no mesmo endereço da Rua de Arroios, a partir de data desconhecida, a Fábrica de Cerveja Peninsular. Tinha esse nome em 1908 (cf. AML), mas no mesmo ano também apareceu referenciada como Fábrica de Cerveja Germânia, à qual deu origem (BAILLY-BAILLIERE, 1908: 830; COLARES, 1914: 1). A Germânia transferiu-se depois para um edifício novo na Avenida Amirante Reis, mudando de nome em 1916 para Portugália (cf. AML), raiz da cervejaria aberta em 1925 e hoje (2023) ainda ali existente, na esquina com a Rua Pascoal de Melo. Portanto, talvez 1915 tenha sido a data de demolição do edifício original da Fábrica de Cerveja Leão.


[2] Note-se também a menção ao “restaurante Varella” ainda em 1908-1910 no diário pessoal de Thomaz de Mello Breyner (BREYNER, 1993: 79, 262, 293).


[3] Alguns anúncios da época referem o "Café Leão d'Ouro" na "Rua do Príncipe, 69 e 77", que é a numeração anterior à mudança de nome da rua; cf. ANON., 1886: 3.


[4] Os espelhos eram de fabrico estrangeiro, não sendo claro se suíço (VILHENA, 1916: 1) ou alemão. Em todo o caso, a decoração "constaria de extensos espelhos de cristal bisauté, encaixilhados em complicadas molduras de madeira preta envernizada". Manuel "Fidalgo" de Vasconcelos "insurgiu-se contra as preferências vulgaríssimas do patrão pela ornamentação burguesa" (LIMA, 1933: 8). 


[5] Conhecido por Manuel "Fidalgo", porque "constava que era filho natural do marquês de Castelo Melhor" (ARAÚJO, 1939: 86). Antes de figurar nas pinturas de Columbano e Malhoa (ver LPIX85), Rafael Bordalo Pinheiro retratou-o e caricaturou-o n'O António Maria (PINHEIRO, 1881: 406; PINHEIRO, 1883: 35) e, claro, também o incluiu na obra que fez para o Leão de Ouro. Ignoramos a data de nascimento, mas morreu antes de Dezembro de 1901 (CÂMARA, 1902: 82).


[6] A decisão foi tomada noutro estabelecimento icónico de Lisboa: "em uma reunião magna na Cervejaria Trindade (...) ficou resolvido que cada um de nós pintasse um quadro de assunto à escolha do artista (...) [eram] trabalhos que se ofereceriam em homenagem ao [criado] Manuel, limitando-se o proprietário do café-restaurante a custear o material necessário" (CRISTINO, 1923: 35).


[7] No final do século XIX o Leão de Ouro teve como gerente o dramaturgo Ernesto Rodrigues (1875-1926) – co-autor da peça (e depois filme) O Leão da Estrela –, cunhado de um sobrinho do proprietário António Monteiro (RODRIGUES, 2007: 58, 91, 132). Décadas mais tarde, sabe-se dos empregados Vicente Francisco e Adelino de Carvalho, que tentaram emigrar clandestinamente para o Brasil num navio ancorado em Lisboa; cf. ANON.., 1927: 5.)


[8] O anúncio também promovia o Restaurante Campo Grande, “ao fundo do Parque”, que abriu em 1925 e pertencia ao mesmo dono do Leão de Ouro (ANON., 1925: 3). Américo Amarelhe fez uma charge em 1930 no Sempre Fixe.


[9] Para relatos do leilão, veja-se: a reportagem (divertidíssima, aliás) de Norberto de Araújo no Diário de Lisboa; o comentário de Luís Reis Santos no mesmo jornal; o anúncio publicitário e a reportagem no Diário de Notícias; a reportagem no República e o comentário de Julião Quintinha; o comentário de de Diogo de Macedo na Ocidente (ARAÚJO, 1939: 8; SANTOS, 1939: 11; ANON., 1939a: 8; ANON., 1939b: 5; ANON., 1939c: 1, 5; QUINTINHA, 1939: 3-4; MACEDO, 1939: 123-124). 


[10] Desta época há registo de o Leão de Ouro ter sido frequentado em 1941 pela coleccionadora Peggy Guggenheim (1898-1979), então em Lisboa em fuga ao nazismo (GUGGENHEIM, 1979: 238, 240).


[11] O café-restaurante Restauração foi frequentado, entre outros, por Edmundo de Bettencourt (1899-1973) e por alguns surrealistas (MARGARIDO, 1973: 68; SUCENA, 1989: 95; LOURES, 2017; LEMOS, VESPEIRA, 2012: s. n.º p.; SIMÕES, 2013: 205). 


[12] "Quando se entra no Museu de Arte Contemporânea, ruína que Diogo de Macedo embelezou, vê-se, no guarda-vento, a fotografia do célebre quadro do Grupo do Leão, de Columbano. Um dia, perguntámos ao director daquela pinacoteca a razão daquela estranha presença fotográfica. Ele, com um ar travesso e mefistofélico, respondeu: Como vêm aqui muitos ministros, é para ver se alguém se tenta a comprá-lo para o museu!" (ANON., 1947: 4). 

AS MAIS ANTIGAS OBRAS CONHECIDAS LIGADAS À CERVEJARIA LEÃO: DESENHOS DE MOURA GIRÃO E ANTÓNIO RAMALHO - 1878

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